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A sustentabilidade é um bom negócio para a agricultura

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Esta edição do Sustentabilidade em Debate re- úne três estudos que se complementam para responder à mesma pergunta: a adoção de boas práticas de gestão, produção, conservação de recursos naturais e condições de trabalho na agropecuária se justi cam economicamente? Em outras palavras, a adoção ou busca pela susten- tabilidade é um bom negócio para o produtor?
A pergunta deriva de uma incongruência entre o senso comum e a experiência do Programa Educampo do SEBRAE-MG, do Rabobank e do Ima ora com um grande número de produtores rurais. Via de regra, líderes do setor a rmam que a sustentabilidade pode ser alcançada, desde que alguém pague a conta. Esta a rmação tem embutida a premissa de que a sustentabilidade é um custo ou uma desvantagem competitiva. A experiência das organizações líderes dos estu-dos que se seguem é contrária. Os produtores participantes de programas que contribuem para a implementação da sustentabilidade relatam que o investimento para produzir com gestão e boas práticas trazem retorno econômico e torna seus negócios mais rentáveis, competitivos e re- silientes. Além disto, partem do contexto que há uma tendência em se reconhecer a sustentabili- dade como uma necessidade e uma oportunida- de para o setor, seja para contribuir com compro- missos públicos nacionais e internacionais como para ocupar espaços comerciais globais.
Para testar se esta percepção era realmente ver- dadeira, o SEBRAE, o Rabobank e o Ima ora se uniram a pesquisadores da ESALQ-USP e da Uni- versidade de Oxford. Os três estudos analisaram com métodos robustos grandes bancos de dados que reúnem informações de dezenas de produto- res sujeitos a programas que incentivam a susten- tabilidade em diversas regiões do Brasil, seja pelo crédito, assistência técnica ou certi cação.
Esta publicação traz antecipadamente e de ma- neira simpli cada e resumida estudos que estão em fase nal de elaboração de pesquisas de pós- -graduação que serão publicadas posteriormente em formato acadêmico detalhado.
As principais conclusões e recomendações dos estudos são:
1) Produtores que adotam programas de sustenta- bilidade e gestão têm melhor desempenho e resul- tado econômico. São, portanto, mais competitivos.
2) Isto ocorre porque estes produtores alcançam maior produtividade, são mais e cientes e produ- zem com menor custo. As vantagens econômi- cas ocorrem no interior das unidades produtivas e são independentes de benefícios de mercado ou preços diferenciados.
3) Um produtor com alto desempenho socioam- biental tende a ter maior saúde nanceira e ser um cliente com menor risco e maior capacidade de pagamento para o setor nanceiro.
4) Um sistema de gestão é fundamental para a implementação da sustentabilidade e para o au- mento da produtividade e e ciência da produção.
5) A gestão e a sustentabilidade podem ser alcan- çadas por pequenos, médios e grandes produto- res. Processos coletivos favorecem e aumentam a escala da adoção para pequenos e médios. Não há dependência entre o desempenho socio- ambiental e a riqueza ou o tamanho do produtor.
6) O crédito pode in uenciar a adoção e apoiar a implementação de boas práticas, gestão e susten- tabilidade na agropecuária. Uma política de con- cessão de crédito baseada em requisitos de sus- tentabilidade e calcada em incentivos e apoio para mudanças conduzida por um agente nanceiro pode induzir um processo de melhoria contínua do desempenho socioambiental do produtor rural. A adoção deste mecanismo tende a ser bené ca tanto para os produtores como para o Banco.
7) Instrumentos de mercado, como a certi cação contribuem para a implementação da gestão e da sustentabilidade. Podem ser implementados cole- tivamente, diminuindo os custos para produtores.
8) Há uma lacuna de políticas públicas que apoiem a melhoria da gestão para o produtor rural. A fra- gilidade da assistência técnica e extensão rural é uma grande barreira para a sustentabilidade.
9) As experiências do Rabobank e do programa Educampo (SEBRAE) mostram o potencial do crédito e da assistência técnica em promover e apoiar a implementação da sustentabilidade no campo. Entretanto, as principais politicas públi- cas para a produção agropecuária não incenti- vam ou apoiam a implementação da gestão e da sustentabilidade de maneira central. Aos poucos, parâmetros de sustentabilidade tem permeado algumas politicas, mas ainda de maneira margi- nal. As métricas de produção e produtividade que costumam medir o sucesso do setor tornam in- visíveis todos os desa os e complexidades para uma produção sustentável.
10) A fragilidade da assistência técnica e exten- são rural (ATER) pública ocorre simultaneamente ao aumento do protagonismo do setor privado como fonte de inovação e transferência de tec- nologia; que não necessariamente é desenhado para a melhoria da gestão, sustentabilidade e e - ciência dos produtores.

Citation

Institute for Forest and Agricultural Management and Certification. 2016. A sustentabilidade é um bom negócio para a agricultura . Sustentabilidade em Debate 3:1-46.

Authors

  • Institute of Agricultural and Forest Management and Certification